segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Passeio de domingo

Como costumamos fazer, no domingo decidimos conhecer mais uma cidade que está pertinho de Madrid. Dessa vez a escolhida foi Aranjuez, a uns 40 quilômetros daqui. Fomos de trem. A cidade é bem pequena e, pelo que entendi, se sustenta pelo turismo, que gira em torno de uma casa da família real que está ali e de seus imensos jardins. O tal palácio não parece mais ser usado hoje em dia, mas é gigantesco, assim como os jardins que o rodeiam. Foi legal. É bonito. Pegamos uma baita chuva, mas como não estava frio e fazia sol, foi bem agradável. Deu quase uma sensação de verão, de quando chove na praia.

Aniversário e manifestação

Como todos já sabem, sexta-feira foi meu aniversário. Agradeço aqui a todos que me desejaram felicidades!! Fico feliz por terem lembrado mesmo eu estando longe. O Marcio chegou aqui em Madrid no dia 23 logo cedinho. Muito fofo. Veio para me dar os parabéns e trouxe de presente um porta-retratos lindo, com três fotos impressas. Adorei! Ao longo do dia alguns telefonemas e à noite saímos para jantar. Fomos na Plaza Mayor e comemos uma pizza (não tem jeito, sempre caímos na velha e boa pizza). Depois, casa e filme. O fim de semana foi, em boa parte do tempo, dedicado a ver filmes e séries. Bem legal, de qualquer forma. No sábado, saímos para ver uma exposição do Roy Lichtenstein, que está acontecendo aqui em Madrid. Ele tem uns quadros bem legais... compramos até um pôster da exposição. Depois, quis levar o Marcio até a Praça do Colón, onde tem uma bandeira bem grande da Espanha. Quando estávamos chegando, vimos uma grande movimentação. Estava acontecendo bem ali, onde está a bandeira, uma grande manifestação contra o ETA. Tinha muuuuuuuuuita gente e quando estávamos ali uma mulher começou a fazer um discurso e ela falou que a filha dela de 6 anos foi vítima de um atentado há quatro anos aqui na Espanha. Nossa, muito triste. Decidimos sair dali antes que eu comessasse a chorar. Só que bem na hora que decidimos ir embora acabou a manifestação. Resultado: Marcio e eu andamos lado a lado por quadras com aquele monte de espanhóis indignados com o tratamento que o governo tem dado ao ETA. Os espanhóis são chegados em uma manifestação. E eu e o Marcio sempre temos o azar (ou a sorte, não sei) de encontrar tais eventos sem querer. O primeiro foi em Madrid, na frente do Parque do Retiro, logo que cheguei aqui. Era sobre o julgamento dos envolvidos no atentado de 11 de março, aquele em Atocha, que matou várias pessoas. O segundo foi em Barcelona, na Rambla das Flores, bem em frente ao Liceu. Os catalães reclamavam do resultado das eleições, que aconteceu no fim do ano passado. Até que com razão. O candidato que teve mais votos não vai governar a Catalunha, porque o segundo, o terceiro e o quarto candidatos se uniram e com a soma dos votos têm o direito de escolher quem governa (mais ou menos assim), o que para mim parece uma democracia meio distorcida. Enfim, eles gostam de sair às ruas para reclamar. Acho que estão certos. Quem sabe até o fim de nossa passagem por aqui não encontramos mais algumas manifestações.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Carnaval à moda espanhola

Antes de mais nada, peço desculpas pela ausência. Nos últimos dias não tenho tido tempo para escrever no blog. Todas as minhas forças para escrever estão direcionadas ao trabalho final da faculdade. Tenho que entregá-lo até abril e aí já viu. Escrever em espanhol me consome muito mais tempo e aí está a explicação da asuência. Mas cá estou para contar como foi nosso Carnaval. Sim, também existe Carnaval na Espanha. Bom, não imaginem que o país pára, como acontece no Brasil, mas sim que há algumas festas pontuais. Os espanhóis mais carnavalescos são os de Tenerife, capital das Ilhas Canárias. Ali, a festa dura uma semana, com direito a desfile e carro alegórico. Praticamente um Rio de Janeiro, guardadas as devidas proporções. Em Cádiz, no sul da Espanha, parece que as pessoas se fantasiam e saem às ruas. Dizem que é uma festa muito bacana também. E há ainda o Carnaval de Sitges, uma cidade a uns 40 quilômetros de Barcelona. A festa é mais conhecido como um Carnaval gay, mas a coisa não é bem assim. Os espanhóis exageram um pouco, como já se sabe.

Marcio e eu fomos no sábado à noite para Sitges. Pegamos um trem em Barcelona que nos deixou no centro da cidade, que, por sinal, é muito pequena. Todo mundo no trem estava fantasiado. Muito divertido. Chegamos em Sitges e, ainda na estação de trem, nossa mochila, com suplementos de sobrevivência, como água, uma garrafa de vinho, salgadinho e chocolate, foi revistada por um policial não muito simpático. Quando começou a fazer perguntas, viu que não éramos espanhóis e então quis saber de onde éramos. “Somos brasileños”, respondemos. “Brasileños, ahn. Já parei três brasileiros hoje e todos tinham haxixe na mochila. Vocês têm drogas ou armas?” Era o que faltava. “Não, não temos nada. Pode olhar à vontade.” Lá foi ele. Revistou a carteria do Marcio, a mochila e o Marcio. Em mim nem encostou. Ah, e nos disse que não nos deixariam entrar na cidade com a garrafa de vinho, porque era de vidro. Falamos que tudo bem, que se mais pra frente nos pedissem, deixaríamos a garrafa. Ninguém falou mais nada. O espertinho do policial queria embolsar nosso vinho de La Rioja.

Passada a revista, entramos na cidade e fomos seguindo o fluxo. As ruas, todas estreitas, estavam cheias de gente. Cheias mesmo!! Em uma delas, havia um bar em cada porta e todos tocavam música eletrônica. Foi muito divertido. Um Carnaval com música eletrônica de graça. Podíamos entrar e sair dos bares quantas vezes quiséssemos, não se pagava nada, só o que se consumia, claro. Ficamos em Sitges até às cinco da manhã, quando saía o primeiro trem de volta a Barcelona. Chegamos em casa lá pelas sete, tomamos um café da manhã bem gostoso e cama. Dormimos até as três da tarde! Foi a primeira vez que eu e o Marcio pulamos Carnaval juntos. Quem diria que seria na Espanha, já que somos da terra do Carnaval. Mas foi muito legal. Valeu muito a pena.


quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Debate jornalístico

Uma discussão sobre ética jornalística tomou conta da profissão nos últimos dias aqui na Espanha. Um correspondente do jornal britânico The Times em Madrid conseguiu fazer uma entrevista e fotografar Iñaki De Juana Chaos, um membro do ETA que está em greve de fome há três meses e está internado num hospital penitenciário. O cara matou 25 pessoas e já cumpriu pena por isso, agora está preso por fazer ameaças terroristas em dois artigos. A greve de fome é porque ele acha que não deveria estar preso pelos artigos que escreveu, alega que isso é contra a liberdade de expressão. E o governo, por sua vez, não quer liberar o etarra. A questão é, no mínimo, delicada. Prender alguém por escrever alguns artigos soa como algo da época da ditadura, mas se tratando de um terrorista talvez a decisão de prender ou soltar não seja tão simples. Bom, contada a história do homem, o bafafá que se criou no meio jornalístico é se vale tudo no jornalismo, até dar espaço na mídia para um assassino terrorista expor seus argumentos. A matéria do The Times, até onde sei, se referia ao terrorista como um preso atado a uma cama que suplica por paz. Paz? E que paz ele traz a sociedade quando está solto? Por mais que se questione sua prisão, o que talvez seja até legítimo, transformar um membro do ETA em mártir parece um pouco demais para mim.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Abridor de latas, artigo em extinção

O fim de semana foi ótimo. Eu fui para Barcelona e recebemos a visita da prima do Marcio, a Clô, que trouxe várias comidas gostosas pra gente: Sonho de Valsa (quatro quilos!!! enviados pelos pais do Marcio), doce de leite, café, feijão... Ela chegou no sábado de manhã. Fomos pegá-la no aeroporto e depois já saímos para passear (detalhes mais abaixo). No sábado à noite eu e o Marcio já queríamos abrir a lata de doce de leite. Mas, cadê o abridor? Aqui na Espanha, as latas não precisam de abridor para serem abertas. Todas são como as latas de refrigerante, basta puxar a argola e pronto, ao contrário das latas do Brasil, que, na maioria, precisam de abridor. Inconformados com o fato de não conseguir comer o doce de leite, fomos procurar na cozinha alguma coisa que servisse para abrir a lata. Depois de olhar bem lá no fundo da gaveta dos talheres, encontramos um abridor, todo enferrujado. Lavamos muito bem o artefato e usamos. Hummm. O doce estava delicioso.


Além da busca pelo abridor de latas, também fizemos outras coisas no findi, tudo com a Clô. Fomos ao Museu do Picasso, que eu recomendo, porque tem obras lindas, inclusive a série de quadros que ele pintou durante o estudo que fez da obra do Velázquez chamada Las meninas. Um arraso! Fiquei impressionada. Entramos também na La Pedrera, ou Casa Milá, um edifício residencial construído por Antoni Gaudí e inaugurado em 1911. O passeio é uma aula de Gaudí, porque o guia de áudio explica toda a obra dele. Além de toda a narrativa, um dos apartamentos do prédio está mobiliado com móveis da época em que moravam famílias ali. Muito legal. O que deixa ainda mais bacana a visita é o preço, € 4,50 com a carteirinha de estudante e de professor (caso da Clô). É um dos pocuos lugares aqui que aceita carteirinha de estudante. Mais barato que ele só o Museu do Prado e o Reina Sofia, que foram de graça.


sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Quatro centavos de euro é quanto vale um artigo de um jornalista

Os jornalistas espanhóis viram suas reivindicações atendidas. Uma nova lei vai obrigar as empresas que reproduzem suas reportagens a pagar 0,04 euros por artigo “copiado" (isso, é claro, não vale para a empresa na qual ele trabalha). O objetivo da medida é pagar os direitos autorais, o que eu acho uma boa idéia. Mas quatro centavos de euro? É isso o que vale uma reportagem? Acho que nosso esforço ao escrever uma notícia vale muito mais que isso. Mas também, se pensarmos que hoje todo mundo publica, sem autorização, o que escrevemos em vários lugares e não recebemos nada por isso, talvez quatro centavos esteja de bom tamanho. Ê vida injusta! Para quem quiser ler a notícia sobre o tema, clique aqui.